As Mulheres Turcas, uma pesquisa histórica breve

Embora vários anos tenham se passado desde a declaração oficial na eliminação de discriminação contra mulheres pelos Nações Unidas e embora o ano de 1975 tenha sido oficialmente declarado como o ano internacional das mulheres, nós não podemos dizer que no ano de 2020 os problemas econômicos, educacionais, familiares e sociais das mulheres foram resolvidos em países desenvolvidos e em desenvolvimento.


Mulheres no harem
Mulheres do harém Otomano

A história registrada na península de Anatólia nos leva ao segundo milênio antes de Cristo. As lápides antigas encontradas trazem inscrições que nos informam do estado social e matrimonial das mulheres assim como aspectos de suas vidas diárias e direitos legais. Estas amostras de história indicam que as mulheres desfrutaram de uma alta posição social. Elas não se escondiam atrás de véus, nem se mantinham longe de certas tarefas feitas pelos homens. Elas estavam em companhia constante dos seus maridos ou parentes em suas casas, tendas, vagões ou no dorso dos cavalos. Direitos e responsabilidades eram compartilhados e as mulheres representaram juntamente com os homens a integridade tribal e autoridade.

Durante os primeiros séculos do Islã, começando do século sétimo depois de Cristo, as mulheres ainda tinham direitos iguais aos dos homens. Maomé - o profeta, montou a cavalo juntamente com sua esposa Hatice nos campos de batalha. Ela era a consultora fiel e sábia ao profeta. Fadima - a filha do profeta, desfrutou da mesma igualdade com o seu marido Ali, o qual era um dos discípulos do profeta e se tornou o quarto califa do Islã.

Durante o Império Seljucas as mulheres tinham os mesmos direitos dos homens. Vários monumentos Seljucas que ainda existem na Anatólia contém nomes de mulheres. Esses monumentos foram erguidos pelas próprias mulheres ou pela comunidade Seljucas em sua memória.

Com o Islã e a permissão da poligamia, os direitos das mulheres mudaram. Leis religiosas abriram espaço para oportunistas degradarem os direitos das mulheres. Enquanto as mulheres das cidades grandes podiam ser vistas nas ruas caminhando somente com seu marido, a concepção do comportamento entre as mulheres nômades da Anatólia era bastante diferente. A mulher nômade não estava sofrendo da fé mal interpretada do Islã mas estava ajudando o seu marido nos campos, criando ovelhas, gado, cultivando, etc. Antes de Ataturk e de suas reformas, o primeiro movimento para recuperar o direito social e educacional das mulheres começou depois da reforma otomana que aconteceu em 1839 com a declaração de "Gulhaney-i Hatti Humayun" que traduzido literalmente significa "O credo real de Gulhane". Esta declaração apontou a modernização do Império e foi promovida pelo Vizir Principal K. Resit Pasa. A emancipação das mulheres era notícias entre os intelectuais, incluindo mulheres escritoras e poetas. Antes disso havia uma minoria de mulheres em Istambul que tinham sido expostas a cultura ocidental e estavam insatisfeitas com os seus direitos. Estes movimentos se expandiram entre as cidades grandes da Anatólia mas quase não alcançaram as áreas rurais. Revisando os estado das mulheres na Turquia não devemos esquecer de fazer distinção entre a mulher urbana e a mulher do campo. A mulher do campo conta com 72% da população feminina.

O primeiro movimento para recuperar o direito social e educacional das mulheres começou em 1839. As escolas secundárias para meninas começaram a serem abertas. Este passo foi dado inicialmente em Istambul em 1858. Mais tarde em 1869, outras escolas foram abertas. Entre 1827 e 1895, os poetas proeminentes e escritores nunca deixaram de satirizar seus trabalhos dizendo que a noiva e o noivo nunca tinham se encontrado antes do casamento.

O período de monarquia constitucional na história Turca (1908) é cheio de guerras e derrotas, contudo este período também testemunhou uma grande vivencia intelectual. Era iniciado o movimento social a favor da monogamia, liberdade, igualdade, educação da mulher bem como um lugar melhor na sociedade. O Império Otomano se iniciou em 1299 e marcou a história durante 623 anos, tendo como termino o ano de 1922. Mulheres turcas (ou mulheres otomanas) começaram um movimento de emancipação na primeira metade do século dezenove. O movimento também incluía homens que estavam a favor da emancipação das mulheres. Naquele tempo havia uma pequena minoria de mulheres emancipadas em Istambul - a cidade que era a capital do Império otomano e tinha sido exposta a cultura ocidental e apoios a essa emancipação. A primeira revista dedicada as mulheres foi intitulada "Terakki" que quer dizer "Progresso". Esta revista foi publicada primeiramente em 1869. Em 1870 a primeira escola de treinamento para Mulheres era fundada. Com a segunda constituição no ano de 1908, no tempo do Sultão Abdul Hamid segundo, foram fundadas escolas secundárias para meninas e pela primeira vez a Universidade de Istambul admitiu mulheres em um departamento separado para o treinamento de professores de escolas secundárias. O ano era 1915.

Mulheres da zona rural turca
Mulheres da zona rural turca

Durante a Guerra dos Balcas (1912-1913) e a primeira guerra mundial (1914-1918) algumas mulheres turcas entraram para o mercado de trabalho em serviços municipais e administrativos substituindo os homens que iam para a guerra. Elas também trabalharam como voluntárias em hospitais. Elas se vestiam menos rigidamente em público e o véu que cobria suas faces ficou mais transparente. Este quadro era a realidade da elite e da classe média urbana enquanto que a maioria das mulheres das áreas rurais compartilhavam o trabalho duro do campo com os homens.

As mulheres turcas também foram muito ativas durante a Guerra da Independência Turca (1918-1923). Estas mulheres que tiveram uma participação ativa na Guerra da Independência serão sempre lembradas pela República com profundo respeito e orgulho. Várias delas ficaram famosas por seus atos de patriotismo; mas, como em toda luta nacional, essas mulheres desconhecidas contribuíram com sua parte na guerra que poderia ter falhado sem sua ajuda. Com o país em ocupação, elas ajudaram a organizar reuniões de protesto, marchas nas cidades e orações em mesquitas. Como o desenvolver da guerra, elas escolheram fazer o trabalho dos homens nos campos, cozinhar, ajudar com a munição e tratar dos feridos. Algumas destas mulheres foram soldados.

O primeiro movimento organizado revolucionário das mulheres da Anatólia aconteceu em Erzurum (situado no nordeste da Turquia). O segundo movimento de massa foi a fundação do "Anadolu Kadinlar Modafaa-i Vatan Cemiyeti" (Movimento das Mulheres da Anatólia para a Defesa Patriótica). Esta Associação fez uma reunião em Sivas em 1919 chamando todas as mulheres turcas a cooperar. Mulheres se aglomeraram para se unir a esta organização que teve apoio da Assembléia Nacional em Ancara. A associação foi muito ativa durante a guerra ajudando o movimento de resistência, fazendo contribuições em larga escala e protestando vigorosamente contra a ocupação.

Por outro lado as mulheres camponesas da Anatólia participavam ativamente na Guerra da Independência. Elas levavam munição e balas de canhão em seus ombros para os campos de batalha e até organizaram ataques militares.

A emancipação completa das mulheres turcas aconteceu depois da proclamação da República turca em 1923. Foi Mustafa Kemal Ataturk, fundador da Turquia moderna que apoiou a emancipação as mulheres, fazendo disso uma das metas sociais principais de seu programa que continha também reformas religiosas e legais. Ataturk transformou a Turquia em uma Democracia Ocidental. Assim, depois de muito tempo de espera, as mulheres turcas podiam realizar seu sonho com a liderança de Ataturk e seus companheiros que aprovaram leis reconhecendo princípios de cidadania igualitárias.

ataturk com mulheres turcas
Mustafa Kemal Ataturk com mulheres Turcas

Nos discursos de Ataturk ele era bem claro, em 1923 ele disse: "Se nossa nação precisa de ciências e conhecimento, homens e mulheres têm que compartilha-lo igualmente. Obviamente a sociedade cria uma divisão do trabalho, e nesta divisão as mulheres devem ter seus deveres e contribuir para melhorar o bem-estar de nossa sociedade."

Antigamente nossos antepassados sabiam disso e nossa história testemunhou o zelo, as habilidades e virtudes das mulheres turcas. Talvez a qualidade mais importante que elas possuíam era fazer de suas crianças bons cidadãos. Nossa nação era poderosa na Ásia assim também como na Europa, e o brilho de nossa história é devido a essas influências maternais que tornavam crianças talentosas e as inspiraram com um senso de honra e coragem. Eu enfatizaria novamente que, antes das responsabilidades públicas, as mulheres têm o dever altamente importante de serem boas mães.

A aprovação do novo código civil em 1926 baseado no Código civil suíço era a mais importante das reformas de Ataturk que afetou profundamente o status das mulheres turcas. A lei provia igualdade de direitos perante a lei, substituía o matrimônio religioso pelo casamento civil, a poligamia passava a ser ilegal e dava também as mulheres direitos iguais em herança, tutela de crianças e divórcio. Antes deste código civil os homens turcos poderiam ter até quatro esposas e se divorciar à vontade sem recursos para uma ação legal. Quando as leis militares foram discutidas em um debate na Assembléia Nacional em 1927 surgiu o assunto do direito de voto entre os deputados. Os oradores se posicionaram a favor de conceder as mulheres o direito de votar e serem eleitas. Mas ainda não havia nenhum movimento para aprovar essas leis eleitorais. Quatro anos depois, em 1930 quando a opinião pública já tinha se preparado para as mudança, as leis eleitorais municipais foram aprovadas e modificadas.

Em 5 de dezembro de 1934 uma lei relativa aos direitos de eleição das mulheres foi debatida na Assembléia Nacional, esta lei foi assinada por 191 deputados. A nova legislação é muito importante na história turca e para as mulheres de Turquia porque propunha:

1. todo cidadão turco que alcançou a idade de vinte e dois anos de idade, homem ou mulher, tem o direito de votar nas eleições.

2. todo cidadão turco que tenha mais de trinta anos de idade, homem ou mulher, pode ser eleito para o parlamento.

Hoje a população masculina da Turquia compõem quase que a metade do país e está aumentando rapidamente. 53% da população vive em áreas urbanas e 47% representa a população das áreas rurais. Nós não podemos considerar esta relação como estática pois há uma grande imigração das áreas rurais para as áreas urbanas. Embora o controle de natalidade seja uma política estatal desde 1965,somente em 1983 uma nova lei foi adotada permitindo as mulheres a fazer o controle de natalidade e a fazerem legalmente o aborto dependendo de certas condições.

Em relação a educação, de acordo com o censo de 1995, a taxa de alfabetização das mulheres era de 75% contra 89% dos homens. A taxa de alfabetização das mulheres em 1935 era somente de 9,8%, comparação notável !

Hoje as mulheres turcas tem um nível excepcionalmente alto profissional e acadêmico. As mulheres marcam sua presença nas profissões de prestígio, que geralmente são consideradas domínio de homens tal como advocacia, medicina, engenharia e arquitetura.

No dia primeiro de março de 1935, foram eleitas dezoito deputadas mulheres na Assembléia Nacional. Nos anos seguintes a 1935, um total de 102 mulheres foram eleitas no parlamento. Algumas delas foram reeleitas. A maioria destas mulheres eleitas para o Parlamento eram professoras primaria ou universitárias. O segundo maior grupo era de advogadas e o terceiro de médicas. As deputadas mulheres sempre mostraram grande interesse em todo aspecto de vida pública, mas particularmente na saúde pública, educação, e bem-estar na terceira-idade e da criança.

Uma pesquisa de 1989 mostrou que dos 30.000 membros de 30 universidades existem mulheres com cátedras, decanas e diretores de institutos. Elas trabalhavam também como presidente da universidade e membro do Conselho de Ensino superior. Estudos mostram que as mulheres não sofrem grande discriminação na vida acadêmica.

Sobre as mulheres na vida política: De acordo com os estudos das Nações Unidas datado de 1989, somente 3,5% dos ministérios em 155 países são representados por mulheres.99 destes 155 países não têm nenhuma ministra mulheres. Nas eleições de 1989 a Professora de economia Tansu Ciller foi eleita pelo parlamento como primeiro-ministra da Turquia.

Em 1985 a Turquia assinou a Convenção da ONU eliminando todas as formas de discriminação contra as mulheres.

Hoje a Turquia tem um governo com um ministério que administra assuntos relativos as mulheres. Um centro de pesquisa sobre as mulheres e o Centro de Educação estão funcionando na Universidade de Istambul desde 1990. O principal objetivo destes centros é dar apoio a pesquisar relativa as mulheres em sua vida social, política e legal. Organizações não-governamentais de mulheres controlam a implementação das legislações relacionadas as mulheres e indicam melhorias.

Em conclusão podemos dizer que o status das mulheres na Turquia não tem uma representação homogênea. Há variações que são baseadas em localidade, nível educacional e fatores socio-econômicos. Estas diferenças são muito fortes entre as mulheres rurais e urbanas. O padrão da família patriarcal tradicional ainda é uma regra nas áreas rurais, embora a urbanização e exposição aos meios de comunicação em massa tragam mudanças. Porém devo dizer que com um crescimento econômico crescente na Turquia, as mulheres turcas trazem grande orgulho e dignidade ao longo da sua história.

Eu desejo fechar meu artigo citando de Ataturk as seguintes linhas: "Há um caminho mais direto e seguro para seguirmos do que o que estivemos. Este caminho é ter as mulheres turcas como sociais em tudo, compartilhar nossas vidas com elas, tê-las como amigas, ajudantes e colegas dentro do meio científico, espiritual, social e econômico."

Este texto fez parte da palestra "As Mulheres turcas, uma pesquisa histórica breve" amavelmente cedida por Ayse Cebesoy Sarialp da Associação de Universidades Turco-Americana e da Fundação Cultural e Educacional de Universidades dada em Istambul para os membros da IWI (International women of Istanbul - Mulheres Internacionais de Istambul).

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