Durante a Guerra dos Balcas (1912-1913) e a primeira guerra mundial (1914-1918) algumas mulheres turcas entraram para o mercado de trabalho em serviços municipais e administrativos substituindo os homens que iam para a guerra. Elas também trabalharam como voluntárias em hospitais. Elas se vestiam menos rigidamente em público e o véu que cobria suas faces ficou mais transparente. Este quadro era a realidade da elite e da classe média urbana enquanto que a maioria das mulheres das áreas rurais compartilhavam o trabalho duro do campo com os homens.
As mulheres turcas também foram muito ativas durante a Guerra da Independência Turca (1918-1923). Estas mulheres que tiveram uma participação ativa na Guerra da Independência serão sempre lembradas pela República com profundo respeito e orgulho. Várias delas ficaram famosas por seus atos de patriotismo; mas, como em toda luta nacional, essas mulheres desconhecidas contribuíram com sua parte na guerra que poderia ter falhado sem sua ajuda. Com o país em ocupação, elas ajudaram a organizar reuniões de protesto, marchas nas cidades e orações em mesquitas. Como o desenvolver da guerra, elas escolheram fazer o trabalho dos homens nos campos, cozinhar, ajudar com a munição e tratar dos feridos. Algumas destas mulheres foram soldados.
O primeiro movimento organizado revolucionário das mulheres da Anatólia aconteceu em Erzurum (situado no nordeste da Turquia). O segundo movimento de massa foi a fundação do "Anadolu Kadinlar Modafaa-i Vatan Cemiyeti" (Movimento das Mulheres da Anatólia para a Defesa Patriótica). Esta Associação fez uma reunião em Sivas em 1919 chamando todas as mulheres turcas a cooperar. Mulheres se aglomeraram para se unir a esta organização que teve apoio da Assembléia Nacional em Ancara. A associação foi muito ativa durante a guerra ajudando o movimento de resistência, fazendo contribuições em larga escala e protestando vigorosamente contra a ocupação.
Por outro lado as mulheres camponesas da Anatólia participavam ativamente na Guerra da Independência. Elas levavam munição e balas de canhão em seus ombros para os campos de batalha e até organizaram ataques militares.
A emancipação completa das mulheres
turcas aconteceu depois da proclamação da República
turca em 1923. Foi Mustafa
Kemal Ataturk, fundador da Turquia moderna que
apoiou a emancipação as mulheres, fazendo disso uma
das metas sociais principais de seu programa que continha
também reformas religiosas e legais. Ataturk transformou a Turquia em uma Democracia Ocidental.
Assim, depois de muito tempo de espera, as mulheres
turcas podiam realizar seu sonho com a liderança de
Ataturk e seus companheiros que aprovaram leis reconhecendo
princípios de cidadania igualitárias.
Mustafa Kemal Ataturk com mulheres Turcas
Nos discursos de Ataturk ele era bem claro, em 1923 ele disse: "Se nossa nação
precisa de ciências e conhecimento, homens e mulheres
têm que compartilha-lo igualmente. Obviamente a sociedade
cria uma divisão do trabalho, e nesta divisão as mulheres
devem ter seus deveres e contribuir para melhorar
o bem-estar de nossa sociedade."
Antigamente nossos antepassados sabiam disso e nossa história testemunhou o zelo, as habilidades e virtudes das mulheres turcas. Talvez a qualidade mais importante que elas possuíam era fazer de suas crianças bons cidadãos. Nossa nação era poderosa na Ásia assim também como na Europa, e o brilho de nossa história é devido a essas influências maternais que tornavam crianças talentosas e as inspiraram com um senso de honra e coragem. Eu enfatizaria novamente que, antes das responsabilidades públicas, as mulheres têm o dever altamente importante de serem boas mães.
A aprovação do novo
código civil em 1926 baseado no Código civil suíço
era a mais importante das reformas de Ataturk que
afetou profundamente o status das mulheres turcas.
A lei provia igualdade de direitos perante a lei,
substituía o matrimônio religioso pelo casamento civil,
a poligamia passava a ser ilegal e dava também as
mulheres direitos iguais em herança, tutela de crianças
e divórcio. Antes deste código civil os homens turcos
poderiam ter até quatro esposas e se divorciar à vontade
sem recursos para uma ação legal. Quando as leis militares
foram discutidas em um debate na Assembléia Nacional
em 1927 surgiu o assunto do direito de voto entre
os deputados. Os oradores se posicionaram a favor
de conceder as mulheres o direito de votar e serem
eleitas. Mas ainda não havia nenhum movimento para
aprovar essas leis eleitorais. Quatro anos depois,
em 1930 quando a opinião pública já tinha se preparado
para as mudança, as leis eleitorais municipais foram
aprovadas e modificadas.
Em 5 de dezembro de 1934 uma lei relativa aos direitos de eleição das mulheres foi debatida na Assembléia Nacional, esta lei foi assinada por 191 deputados. A nova legislação é muito importante na história turca e para as mulheres de Turquia porque propunha:
1. todo cidadão turco que alcançou a idade de vinte e dois anos de idade, homem ou mulher, tem o direito de votar nas eleições.
2. todo cidadão turco que tenha mais de trinta anos de idade, homem ou mulher, pode ser eleito para o parlamento.
Hoje a população masculina da Turquia compõem quase que a metade do país e está aumentando rapidamente. 53% da população vive em áreas urbanas e 47% representa a população das áreas rurais. Nós não podemos considerar esta relação como estática pois há uma grande imigração das áreas rurais para as áreas urbanas. Embora o controle de natalidade seja uma política estatal desde 1965,somente em 1983 uma nova lei foi adotada permitindo as mulheres a fazer o controle de natalidade e a fazerem legalmente o aborto dependendo de certas condições.
Em relação a educação, de acordo com o censo de 1995, a taxa de alfabetização das mulheres era de 75% contra 89% dos homens. A taxa de alfabetização das mulheres em 1935 era somente de 9,8%, comparação notável !
Hoje as mulheres turcas tem um nível excepcionalmente alto profissional e acadêmico. As mulheres marcam sua presença nas profissões de prestígio, que geralmente são consideradas domínio de homens tal como advocacia, medicina, engenharia e arquitetura.
No dia primeiro de março de 1935, foram eleitas dezoito deputadas mulheres na Assembléia Nacional. Nos anos seguintes a 1935, um total de 102 mulheres foram eleitas no parlamento. Algumas delas foram reeleitas. A maioria destas mulheres eleitas para o Parlamento eram professoras primaria ou universitárias. O segundo maior grupo era de advogadas e o terceiro de médicas. As deputadas mulheres sempre mostraram grande interesse em todo aspecto de vida pública, mas particularmente na saúde pública, educação, e bem-estar na terceira-idade e da criança.
Uma pesquisa de 1989 mostrou que dos 30.000 membros de 30 universidades existem mulheres com cátedras, decanas e diretores de institutos. Elas trabalhavam também como presidente da universidade e membro do Conselho de Ensino superior. Estudos mostram que as mulheres não sofrem grande discriminação na vida acadêmica.
Sobre as mulheres na vida política: De acordo com os estudos das Nações Unidas datado de 1989, somente 3,5% dos ministérios em 155 países são representados por mulheres.99 destes 155 países não têm nenhuma ministra mulheres. Nas eleições de 1989 a Professora de economia Tansu Ciller foi eleita pelo parlamento como primeiro-ministra da Turquia.
Em 1985 a Turquia assinou a Convenção da ONU eliminando todas as formas de discriminação contra as mulheres.
Hoje a Turquia tem um governo com um ministério que administra assuntos relativos as mulheres. Um centro de pesquisa sobre as mulheres e o Centro de Educação estão funcionando na Universidade de Istambul desde 1990. O principal objetivo destes centros é dar apoio a pesquisar relativa as mulheres em sua vida social, política e legal. Organizações não-governamentais de mulheres controlam a implementação das legislações relacionadas as mulheres e indicam melhorias.
Em conclusão podemos dizer que o status das mulheres na Turquia não tem uma representação homogênea. Há variações que são baseadas em localidade, nível educacional e fatores socio-econômicos. Estas diferenças são muito fortes entre as mulheres rurais e urbanas. O padrão da família patriarcal tradicional ainda é uma regra nas áreas rurais, embora a urbanização e exposição aos meios de comunicação em massa tragam mudanças. Porém devo dizer que com um crescimento econômico crescente na Turquia, as mulheres turcas trazem grande orgulho e dignidade ao longo da sua história.
Eu desejo fechar meu artigo citando
de Ataturk as seguintes
linhas: "Há um caminho mais direto e seguro para seguirmos
do que o que estivemos. Este caminho é ter as mulheres
turcas como sociais em tudo, compartilhar nossas vidas
com elas, tê-las como amigas, ajudantes e colegas
dentro do meio científico, espiritual, social e econômico."
Este texto fez parte da palestra "As
Mulheres turcas, uma pesquisa histórica breve" amavelmente
cedida por Ayse Cebesoy Sarialp da Associação
de Universidades Turco-Americana e da Fundação Cultural
e Educacional de Universidades dada em Istambul para
os membros da IWI (International
women of Istanbul - Mulheres Internacionais de Istambul).
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